Vivendo com Livros

Um blog voltado especificamente para os livros, meus e de outros autores. Nele pretendo colocar materiais relativos a meus livros, resenhas de livros publicados, notas de leitura e informações gerais relativas ao mundo dos livros. Podem também figurar aqui reflexões pessoais sobre esses transparentes objetos de prazer intelectual.

quinta-feira, março 22, 2007

12) O bibliofilo aprendiz

Capitulo "Colecionar o quê?", do livro de Rubens Borba de Moraes, O Bibliófilo Aprendiz (Casa da Palavra, 2007)

É aos psicanalistas que se deve perguntar por que se coleciona. Só eles sabem descobrir quais os motivos inconfessáveis e escabrosos que levam um burguês pacato e morigerado a praticar atos perfeitamente simples e morais.

Não resta dúvida que o dom de colecionar é uma compensação para algum complexo. Em muitos casos é simplesmente um complexo de fuga, uma “Pasárgada” que ajuda a suportar guerras, inflações, desejos frustrados ou simplesmente uma mulher tagarela. Compensá-los, escrevendo poemas, pintando, esculpindo ou colecionando ainda é a melhor terapêutica que pode haver.
Há gente que coleciona selos, discos de fonógrafo, botões de fardas, soldadinhos de chumbo, figurinhas de toda sorte, e até caixas de fósforos. Tutancâmon colecionava bengalas e as queria tanto que foi enterrado com elas. Don Giovanni, mulheres. Chegou a possuir mille e tre, mille e tre… como se canta na ópera.
Não há coleção tola e ridícula quando feita com arte, gosto e conhecimento. Vi, há anos, exposta num museu, uma coleção particular de carteiras de cigarros. Essa coleção tinha sido feita com tal gosto, tal arte, que a gente se esquecia que aquelas lindas figurinhas, aqueles desenhos pitorescos e divertidos tinham sido feitos para proteger cigarros. A carteira de cigarros desaparecia, sobrando somente a obra de arte popular, o documento de uma época. Um historiador de arte ou um sociólogo poderia escrever um livro apaixonante, graças a esses documentos colhidos por um colecionador.
Colecionar é uma arte. Como toda arte, é preciso que esteja combinada com o conhecimento, com o métier, para se tornar uma verdadeira criação. Muita gente pensa que colecionar é um passatempo de rico. Engano: que o diga o nosso colecionador de carteiras de cigarros.
Toda gente compra livros uma vez ou outra. Comprar livros, hoje em dia, é uma necessidade. É indispensável em certas profissões. No entanto, uma minoria somente coleciona livros. É porque nem todos têm a sorte de possuir o dom da bibliofilia ou, se quiserem, os complexos necessários para se tornarem bibliófilos.
Colecionar livros não é uma ocupação mais cara que a de comprar casualmente um ou outro romance para se ler em viagem. Depende do gênero que se quer colecionar. Imprimem-se, todos os anos, milhões de livros no mundo. Da descoberta do prelo até hoje imprimiram-se outros tantos milhões. Não é, por conseguinte, por falta de material que se deixa de colecionar. Mas, justamente essa pletora é que torna difícil a escolha. É preciso, portanto, escolher com muito critério qual o gênero de livro que se quer colecionar. Nunca um bom colecionador deve ir comprando o que lhe agrada no momento. Se assim fizer, chegará, no fim de alguns anos, a ter uma vasta livraria sobre os assuntos mais diversos, obras dos autores mais variados, edições das mais disparatadas, mas nunca uma coleção digna de um bibliófilo. Terá formado um acervo de biblioteca pública, quando muito.
Há, digamos, para facilitar, dois rumos a seguir: ou escolher o assunto ou escolher as obras de um determinado autor como objetivo de uma coleção. Mas, que assunto, que autores? Não é possível aconselhar. É uma questão de gosto e de conhecimento. Deve-se escolher o assunto de que mais se gosta ou mais se entenda; o autor que mais agrada. Mas, cuidado, nem toda onça é tapete, não escolha um assunto vasto demais ou um autor antigo, cujas obras têm milhares de edições. O senso da medida é indispensável. O saber restringir o objetivo de uma coleção é a única possibilidade que se tem de formar uma verdadeira biblioteca particular e não um bricabraque de livros.
Não se deve escolher um assunto ou um autor, cujas obras estejam acima das possibilidades financeiras do colecionador. Há assuntos caros. Há autores, cujas obras nas edições procuradas custam verdadeiras fortunas.
O prazer de colecionar, a emoção de encontrar um livro procurado há anos, a volúpia de completar as obras de um autor, é, para o milionário que paga uma fortuna por um livro, a mesma do pobretão que encontra num sebo o volume sonhado.
O primeiro passo a dar, portanto, quando se decide colecionar livros é planejar a coleção que pretende fazer. É preciso estudar o assunto. Conhecê-lo bem. Saber o caminho a seguir. Quanto mais erudito for o colecionador, mais probabilidades terá de formar uma biblioteca de valor.
Não se deve colecionar com o intuito de ganhar dinheiro. Comprar livros com a intenção de vendê-los mais tarde com lucro não é próprio de bibliófilo, mas de livreiro. Um amigo meu, bibliófilo apaixonado, resolveu abrir uma livraria. Parecia-lhe que era esse o melhor meio de aumentar sua biblioteca com pouco dispêndio. Ora, aconteceu-lhe que as boas compras que fazia, ficava com elas. Só punha à venda o que não lhe interessava ou lhe parecia muito caro. Em pouco tempo a loja do livreiro colecionador tornou-se cheia de verdadeiro rebotalho. Ninguém queria esse refugo e, antes de ir à falência, o comerciante inexperiente tratou de vender a livraria. Outro conhecido meu, livreiro estabelecido, resolveu colecionar livros sobre um autor de sua predileção. Reuniu, em alguns anos, uma excelente coleção de todos os livros desse autor, em primeiras edições. Esse conjunto magnífico ficou valendo muito bom dinheiro, dinheiro que fazia falta para movimentar sua casa comercial. Acabou vendendo a coleção, para continuar a ser livreiro.
Colecionador e livreiro são coisas diferentes. São raríssimos os exemplos de quem tenha misturado as duas coisas com sucesso. O Dr. Rosenbach o fez, mas ele era conhecido como o Napoleão dos livreiros.
O colecionador que deseja fazer negócio e labora nesse sentido acaba quase sempre perdendo. O amor ao lucro é nefasto aos bibliófilos. O prazer de formar uma bela coleção é uma recompensa suficiente. É verdade que, se ele tiver critério e gosto, acabará formando um conjunto que valerá muito mais do que gastou. Será a recompensa material pela sua arte e ciência.
Vamos a um caso concreto. Suponhamos que um médico queira colecionar livros sobre medicina. Nada mais apropriado, nada mais legítimo e mais bem escolhido para um médico. Os médicos são muito dados à bibliofilia. Há muita sociedade de médicos bibliófilos. Acontece que o assunto é vastíssimo, verdadeiramente inesgotável. A National Library of Medicine dos Estados Unidos contém centenas de milhares de livros e está muito longe, mas muito longe, de possuir uma coleção completa. Aliás, não está na cogitação de nenhuma biblioteca médica a intenção utópica de possuir tudo que se publicou sobre medicina no mundo, nem sequer ter tudo quanto se publica atualmente sobre esse vasto assunto.
O médico que desejar colecionar livros sobre medicina deverá, portanto, logo no início, escolher ou um ramo da medicina ou uma época na história da medicina. Poderá, por exemplo, escolher os livros sobre a sífilis, assunto, aliás, muito procurado, que contém obras muito raras e bastante caras. Ou, então, os livros antigos sobre anatomia. Muitos desses livros são ilustrados com gravuras belíssimas e alguns são extremamente raros.
Ou, ainda, os livros que marcaram época na história da medicina.
Para médicos brasileiros, há um assunto apaixonante: os primeiros livros de medicina brasileira. Livros sobre medicina dos tempos coloniais há poucos, uns doze ou quinze que eu saiba. Alguns como, por exemplo, o Tratado único da constituição pestilencial de Pernambuco, escrito por João Ferreira da Rosa, impresso em Lisboa em 1694. É nesse livro que aparece a primeira observação, a descrição clara e inconfundível da febre amarela. Ferreira da Rosa fez a observação em Pernambuco. É, pois, um desses livros que marcam época. Todo livro que cita pela primeira vez um fato importante, marca uma data na História, tem um valor bibliográfico universal, é procurado e se torna geralmente raro. Esse Tratado único da constituição pestilencial de Pernambuco (que título magnífico!) tem uma outra particularidade: é raríssimo. Não se conhecem mais que uns poucos exemplares mas, tenho para mim, que deve haver mais alguns desconhecidos dos bibliófilos. Procurem-nos, portanto, os colecionadores!
Nem todos os livros de medicina antiga brasileira são tão desanimadoramente raros. As Notícias do que he o achaque do bicho, escrito por “Miguel Dias Pimenta, Familiar do S. Officio e residente no Arrecife de Pernambuco” , impresso em Lisboa em 1707, é outro livro célebre que descreve uma moléstia muito comum no Brasil colonial. Pimenta não era médico. Nascido em Portugal, foi para Recife tentar fortuna. Com quinze anos era caixeiro e quando publicou as Notícias já era comerciante abastado. Há quem suponha que comprava barato escravos doentes, atacados de “achaque do bicho”, tratava-os de acordo com o método que inventara e revendia-os, curados, por muito bom dinheiro. Não era mau homem o mascate enriquecido. Negociar em escravos era um negócio tão limpo quanto qualquer outro naquele tempo. Possuía até um certo senso de humanidade, tanto assim que resolveu divulgar o método que inventara para curar o “bicho”. Diz ele que publicava o livro “por zelo da caridade proximal... para que todos se possam curar por si”. O que admira não é a “caridade proximal” de Pimenta, tão rara naquela época, mas que conseguisse curar alguém com os remédios que preconizava. O “achaque do bicho” era moléstia freqüente no Brasil e em Angola até o século XIX, e muitos livros de Medicina descrevem o mal e receitam remédios. Parece que era uma espécie de retite gangrenosa, agravada por toda sorte de complicações devidas à falta de higiene corporal. O doente chegava a “criar bichos” e daí o nome da moléstia.
A obra de Pimenta é um livro de medicina escrito por um leigo, baseado em observações e prática. Daí seu valor todo especial. Acresce que é um livro extremamente raro, uma verdadeira jóia brasiliana.
Já que estou citando livros de medicina antiga do Brasil, não posso deixar de mencionar um dos mais interessantes, o Governo de mineiros, de autoria de João Antonio Mendes, impresso em Lisboa em 1770. É um manual de medicina prática, caseira, escrito para os que viviam em Minas Gerais, “distantes de professores seis, oito, dez e mais legoas padecendo por esta cauza os seus domesticos e escravos queixas, que pela dilação dos remedios se fazem incuraveis, e as mais das vezes mortaes”. João Antônio Mendes era “cirurgiam e anatomico aprovado” e exerceu a medicina nas Minas por longos anos. Outro livro curiosíssimo, escrito também por um médico que clinicava em Minas, é o Erario mineral, de Luís Gomes Ferreira, impresso em Lisboa em 1735. É um livro interessantíssimo, cheio de detalhes curiosos sobre a vida que levavam os mineradores. Grande livro é o Erario mineral, e raríssimo!
Há outros: a Prodigiosa lagoa descuberta nas Congonhas das Minas do Sabará, impresso em Lisboa em 1749, sem o nome de autor, mas de autoria de João Cardoso de Miranda, o Trattado único das bexigas, e sarampo, por Romão Mõssia Reinhipo (o médico Simão Pinheiro Morão), o primeiro livro de medicina brasileira, impresso em Lisboa 1683, e mais alguns outros. Mas dessa época (século XVII e XVIII) não existem, como já disse, mais do que uma dúzia de livros de medicina brasileira, sem contar as teses dos médicos brasileiros que se formaram em Montpellier, em Coimbra e Edimburgo. São todos muito raros, mas nenhum bibliófilo, mesmo principiante, perde a esperança de obter uma peça dessa raridade. E faz muito bem, porque a sorte é um elemento com o qual se deve contar.
Nem todos os livros de medicina brasileira são tão raros como os que citei. Os que foram publicados na Bahia e no Rio de Janeiro, em princípios do século XIX, embora sejam bastante raros, encontram-se de vez em quando. Muitos desses livros são traduções de obras européias, feitas por médicos brasileiros. Quando se fundaram as Escolas de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro houve necessidade de manuais para os alunos. Diversos professores traduziram, então, os livros clássicos franceses e ingleses, usados nas faculdades de Paris e Edimburgo. Essas traduções são, muitas vezes, anotadas pelos clínicos nacionais, com observações feitas no Brasil, o que as torna mais valiosas cientificamente. As traduções de Bichat, Fourcroy, Cabanis, Richerand, Maunoir e outros médicos estrangeiros estão entre os primeiros livros de medicina impressos no Brasil. Mais valiosas, talvez, são as obras originais dos médicos brasileiros, os livros de José Maria Bomtempo, Luís de Santa Ana Gomes, Domingos Ribeiro Guimarães Peixoto, e tantos outros, sem falar nas obras do Dr. Melo Franco, publicadas anteriormente em Lisboa. Nem todas as obras desse famoso médico mineiro são difíceis de achar, mas a Medicina theologica é um livro muito raro e muito curioso. Um psicanalista, lendo-o com atenção, encontraria nas suas páginas as teorias de Freud em germe. Melo Franco foi um precursor em muita matéria médica e o nosso primeiro pediatra. Publicou, em 1790, um Tratado da educação fysica dos meninos.
Como se vê, não faltam livros de medicina brasileira para formar uma belíssima coleção. A dificuldade de se obter as obras publicadas nos tempos coloniais não deve desanimar. O assunto não é, ainda, muito procurado. Uma boa coleção de medicina antiga brasileira seria (digo seria porque não conheço presentemente nenhuma verdadeiramente rica) uma obra digna dos maiores louvores e de um valor incalculável.
Há outros assuntos pouco explorados em bibliofilia brasileira, onde um colecionador ativo poderia empregar sua erudição e faro. Por que não colecionar os primeiros impressos produzidos nos diferentes estados e cidades do Brasil? É um assunto pouco explorado, onde há um vasto campo para pesquisa e muita descoberta a fazer. Outro assunto tentador seria colecionar os livros sobre escravidão ou sobre imigração ou, ainda, as primeiras edições dos escritores de uma escola literária. Digo de uma ou duas escolas literárias, porque ambicionar possuir todas as primeiras edições de obras literárias brasileiras seria uma ambição napoleônica.
O leitor já deve ter percebido que sou francamente partidário das pequenas coleções, da restrição do âmbito de uma coleção. De fato, hoje em dia não é possível um particular formar uma grande biblioteca sobre um assunto geral. Embora possua muito dinheiro, tempo e conhecimento do assunto, a concorrência que sofre das bibliotecas públicas, dos outros colecionadores que procuram as mesmas obras há mais tempo que ele, é um obstáculo muito difícil de vencer. É preciso ter sempre em mente que o número de exemplares de um livro é limitado. Muitos e muitos livros não existem mais no mercado, todos os exemplares já estão nas bibliotecas dos governos e nunca mais serão vendidos. É preciso saber que não se compra o que se quer, mas o que se pode comprar e o que aparece à venda. Já é, portanto, uma limitação com a qual o colecionador deve contar. Há livros que nunca mais aparecerão à venda. Um exemplo entre mil é o que aconteceu com a Historia da provincia Sãcta Cruz a que vulgarmete chamamos Brasil feita por Pero de Magalhaes de Gandavo, impressa em Lisboa em 1576. Dessa obra clássica, o primeiro livro sobre o Brasil escrito em português, existiam sete exemplares no mundo, todos em bibliotecas públicas da Europa e dos Estados Unidos. Em 1946 apareceu um oitavo exemplar. Oferecia-o à venda o famoso livreiro Rosenbach. Essas ocasiões são das tais que não se perdem. Agora, já, ou nunca mais! Como responsável pela direção da Biblioteca Nacional do Rio, naquele tempo, eu não podia deixar escapar essa ocasião única de enriquecer o Brasil com um exemplar de um dos livros mais importantes sobre nosso país. Comprei esse exemplar perfeito da tiragem mais rara, da qual só existem dois outros. Assim procedi, embora a Nacional já possuísse um Gandavo com as margens cortadas rente ao texto, bichado e encadernado num volume com outros folhetos. O Brasil merece possuir um belo exemplar de um dos monumentos de sua cultura. Muitos me criticaram acerbamente. “Sabeis quão má gente é a da Índia...”. Exemplos como esse aparecem a toda hora. Os livros raros vão sumindo do mercado. A ciência de colecionar consiste em saber quais os livros que estão desaparecendo e em comprá-los na hora certa. Muitas vezes é preciso coragem para pagar o preço pedido, mas sem coragem nada se faz na vida, nem uma biblioteca. Voltemos ao caso das pequenas coleções sobre um assunto determinado, preferivelmente às coleções gerais.
Na minha opinião, o que é digno de admirar é um conjunto de livros homogêneo. O que é apreciável numa biblioteca particular não é o número de livros caros que contém. A existência de livros raros no meio de uma porção de outros, sobre assuntos inteiramente diferentes, faz a gente lembrar muito mais o que falta na coleção do que aquilo que existe. Colecionar não é juntar livros. O que é difícil, o que torna a bibliofilia um divertimento, um hobby apaixonante, é justamente a procura do que lhe falta. É o prazer em encontrar o exemplar desejado. Pouco importa o preço que se pagou por esse prazer. Pode ser uma pequena fortuna ou alguns cruzeiros. Comprar livros raros e caros, a torto e a direito, está no alcance de qualquer pessoa com dinheiro no bolso.
Para se formar uma coleção homogênea sobre um assunto ou um autor é preciso ciência, conhecer a vida do autor, saber quando, onde publicou seus livros. É preciso toda uma soma de conhecimentos, uma verdadeira erudição, às vezes. É aí que está a diferença entre o verdadeiro bibliófilo e o mero comprador de livros. O verdadeiro bibliófilo sabe o que compra e por que compra. Às vezes tem a santa ingenuidade de crer que o livreiro não sabe o que está vendendo e não soube marcar o preço. Doce ilusão que logo perde. Os bons livreiros possuem três virtudes: o faro para descobrir, o talento para comprar barato e a fé em poder vender caro. O bibliófilo deve ter somente coragem para pagar e saber o que e por que está comprando.

terça-feira, março 13, 2007

11) Minhas resenhas mais recentes...

Algumas das resenhas de livros mais recentes...

1727. “A arte de atirar nos próprios pés”, Brasília, 23 fevereiro 2007, 2 p. Resenha de João Luiz Roth: Por Que Não Crescemos como outros Países?: Custo Brasil (São Paulo: Saraiva, 2006, 194 p.) Revista Desafios do Desenvolvimento (ano 4, nº 32, março 2007, p.; link).

1726. “Comércio e diplomacia: história e atualidade”, Brasília, 22 fevereiro 2007, 2 p. Resenha de Demétrio Magnoli e Carlos Serapião Jr.: Comércio Exterior e negociações internacionais: teoria e prática (São Paulo: Saraiva, 2006, 378 p.). Revista Desafios do Desenvolvimento (ano 4, nº 32, março 2007, p.; link).

1721. “Fronteiras da sociedade global”, Brasília, 11 fevereiro 2007, 5 p. Resenha de Eduardo Felipe P. Matias, A Humanidade e suas Fronteiras: do Estado soberano à sociedade global (São Paulo: Paz e Terra, 2005, 556 p; ISBN: 85-219-0763-X). Publicado em formato digital no site do Observatório da Imprensa (ano 11, nº 421; 20/02/2007; ISSN: 1519-7670; link).

1711. “Futuro preterido?: Zweig e um projeto para o Brasil”, Brasília, 26 janeiro 2007, 2 p. Resenha de João Paulo dos Reis Velloso e Roberto Cavalcanti de Albuquerque (coords.): Brasil, um país do futuro? (Rio de Janeiro: José Olympio, 2006, 154 p.; R$ 31,00) e Projeto de Brasil: opções de país, opções de desenvolvimento (idem, 222 p., R$ 38,00). Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 4, nr. 31, fevereiro 2007; link).

1697. “O seu, o meu, o nosso dinheiro...”, Brasília, 17 dezembro 2006, 4 p. Resenha de Marcos Mendes (org.): Gasto Público Eficiente: 91 propostas para o desenvolvimento do Brasil (Rio de Janeiro: Topbooks, Instituto Fernand Braudel, 2006, 475 p. ISBN: 85-7475-128-6). Feita versão reduzida, sob o título de “Manual da boa gastança”, para a revista Desafios do Desenvolvimento (n. 30, janeiro 2007; p. 62; link).

1695. “O Bunker Voador: a aventura eletrizante do Plano Real”, Brasília, 10 dezembro 2006, 4 p. Resenha de Guilherme Fiuza: 3.000 dias no bunker: um plano na cabeça e um país na mão (Rio de Janeiro: Record, 2006, 331 p.; ISBN: 85-01-07342-3). Enviado à Revista de Economia e Relações internacionais (FAAP-SP). Publicado no blog Book Reviews em 11.12.2006). Republicado, com uma inserção publicitária sobre o debate de lançamento em Brasília (em 13.12.06, na Livraria Leitura, do Pátio Brasil Shopping), no blog NoMínimo, em 12.12.2006 (link).

1687. “A produção do conhecimento nas sociedades contemporâneas: a concentração e as desigualdades são inevitáveis?”, Brasília, 25 novembro 2006, 11 p. Nova resenha de Fernando Antonio Ferreira de Barros: A tendência concentradora da produção de conhecimento no mundo contemporâneo (Brasília: Paralelo 15 – Abipti, 2005, 307 p.), aproveitando algumas idéias da primeira (1536). Parcerias Estratégicas (Brasília: CGEE; nº 23, dezembro 2006; ISSN: 1413-9375; p. 435-446; link).

1680. “Uma venerável, mas ainda jovem, senhora: a USP aos 70 anos”, Brasília, 5 novembro 2006, 5 p. Resenha de Shozo Motoyama (org.), USP 70 anos: Imagens de uma história vivida (São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006, 704 p.). Feita versão resumida, sob o título “Uma Senhorita aos 70 anos”, para a revista Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 29, dezembro 2006, p. ; link).

1679. “Sucessores bem sucedidos?: um balanço realista (e completo) da diplomacia na era militar”, Brasília, 4 novembro 2006, 6 p. Resenha de Fernando de Mello Barreto: Os Sucessores do Barão, 2: relações exteriores do Brasil, 1964-1985 (São Paulo: Paz e Terra, 2006, 519 p.; ISBN: 85-7753-004-3). Revista Política Externa (São Paulo: ). Versão resumida publicada, sob o título de “Diplomacia durante a ditadura”, na revista Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 29, dezembro 2006, p. ; link).

1675. “Prata da Casa, Boletim ADB 2006-4”, Brasília, 23 outubro 2006, 2 p. Notas sobre os livros: Fernando de Mello Barreto: Os Sucessores do Barão, 2: relações exteriores do Brasil, 1964-1985 (São Paulo: Paz e Terra, 2006, 519 p.); Paulo Roberto de Almeida: O estudo das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE Editora, 2006, 388 p.); Vasco Mariz (org.): Brasil-França: relações históricas no período colonial (Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2006, 196 p.); Armindo Branco Mendes Cadaxa: No Jardim de Inverno (Nova Friburgo: Ars Fluminensis, 2006, 74 p.); para o Boletim ADB (ano XIII, nº 55, out-dez 2006; ISSN: 0104-8503; p. 28-29; link).

1674. “Os divergentes convergem, mesmo contra a vontade...”, Brasília, 23 outubro 2006, 2 p. Resenha do livro de Gustavo H. B. Franco: Crônicas da convergência: ensaios sobre temas já não tão polêmicos (Rio de Janeiro: Topbooks, 2006, 598 p.). Publicado em formato resumido em Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nr. 28, novembro 2006, p. 63; link). Publicado, na versão original, no site do autor (link).

1673. “Personagens com idéias, ainda que tardias”, Brasília, 22 outubro 2006, 2 p. Resenha do livro de Francisco C. Weffort: Formação do Pensamento Político Brasileiro: idéias e personagens (São Paulo: Editora Ática, 2006, 360 p.). Publicado em formato resumido em Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nr. 28, novembro 2006, p. 62; link).

1664. “O imperador americano das PPPs”, Brasília, 20 setembro 2006, 2 p. Resenha de Charles A. Gauld: Farquhar, o último titã: um empreendedor americano na América Latina (São Paulo: Editora de Cultura, 2006, 520 p.). Publicada em formato resumido e revisto na revista Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 27, outubro 2006, p. ?; link).

1656. “Um ‘padreco’ diabólico”, Brasília, 27 agosto 2006, 1 p. Hamilton Almeida: Padre Landell de Moura: um herói sem glória; o brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo... (Rio de Janeiro: Record, 2006, 319 p.). Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 26, setembro 2006, p. ; link).

1655. “Anatomia do Leviatã econômico”, Brasília, 26 agosto 2006, 2 p. Resenha de: Ciro Biderman e Paulo Arvate (orgs.), Economia do Setor Público no Brasil (Rio de Janeiro: Campus, 2004, 560 p.). Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 26, setembro 2006, p. ; link).

1641. “Do leão britânico para a águia americana?”, Brasília, 25 julho 2006. 2 p. Nova resenha, resumida, do livro de Eugênio Vargas Garcia: Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 (Brasília: Editora da Universidade de Brasília; Funag, 2006, 672 p.; ISBN: 85-230-0854-3), para a revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nº 25, 2006, p. 62; link).

1639. “Sob a sombra da águia?: a diplomacia brasileira no início do declínio britânico”, Brasília, 20 julho 2006, 4 p. Nova resenha de Eugênio Vargas Garcia: Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 (Brasília: Editora da Universidade de Brasília; Funag, 2006, 672 p.; ISBN: 85-230-0854-3). Para publicação na revista Política Externa (São Paulo: vol. ?, nº ?, 2006, pp. ).

1638. “Não falta oportunidade para crises...”, Brasília, 18 julho 2006, 2 p. Resenha de Antonio Corrêa de Lacerda (org.), Crise e oportunidade: o Brasil e o cenário internacional (São Paulo: Lazuli, 2006, 328 p.). Revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nº 25, 2006, p. 63; link).

1618. “A economia, em centímetros quadrados...”, Brasília, 16 junho 2006, 4 p. Resenha de Paulo Sandroni: Dicionário de Economia do século XXI (Rio de Janeiro: Record, 2005, 905 p.; ISBN: 85-01-07228-1). Publicado na Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD. Ano 3, nº 24, julho 2006, p. 54-55; link). Revisto e ampliado e publicado sob o título “A economia, explicada aos jornalistas (e outros curiosos)” no Observatório da Imprensa (Ano 11, nº 388, de 4/07/2006; ISSN: 1519-7670; link).

1602. “Um manual para superar a letargia econômica brasileira”, Brasília, 14 maio 2006, 3 p. Resenha de Armando Castelar Pinheiro e Fabio Giambiagi: Rompendo o marasmo: a retomada do desenvolvimento no Brasil (Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, 312 p.). Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 23, junho 2006, pp. 62-63; link).

1601. “Educação e desenvolvimento: como o Brasil vem falhando nos dois lados”, Brasília, 12 maio 2006, 5 p. Resenha ampliada de Gustavo Ioschpe: A ignorância custa um mundo: o valor da educação no desenvolvimento do Brasil (São Paulo: Francis, 2004, 234 p.), objeto do trabalho nº 1537. Revista de Economia e Relações Internacionais (São Paulo: FAAP; vol. 5, nº 9, julho 2006, p. 139-142, ISSN: 1677-4973; link).

1583. “Reeducando juízes “heterodoxos” em economia”, Brasília, 21 abril 2006, 2 p. Resenha de Armando Castelar Pinheiro e Jairo Saddi: Direito, Economia e Mercados (Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, 553 p.; ISBN: 85-352-1528-X). Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 23, junho 2006, p. 63; link).

1582. “Entre a América e a Europa: a política externa do Brasil nos anos 1920”, Brasília, 21 abril 2006, 3 p. Resenha de Eugênio Vargas Garcia: Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 (Brasília: Editora da Universidade de Brasília; Funag, 2006, 672 p.; ISBN: 85-230-0854-3). Revista Brasileira de Política Internacional (Brasília: ano 49, nº 1, 2006, p. 222-224).


1578. “A ordem mundial, para principiantes”, Brasília, 14 abril 2006, 2 p. Resenha de Henrique Altemani de Oliveira e Antonio Carlos Lessa (orgs.), Política Internacional Contemporânea: mundo em transformação (São Paulo: Saraiva, 2006, 115 p.). Feita versão resumida de 1 p. Publicado, sob o título de “A nova ordem, para iniciantes”, em Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 22, maio de 2006, p. 63; link).

1575. “Greenspan: uma fraude ex-post?”, Brasília, 12 abril 2006, 2 p. Resenha de Ravi Batra: Greenspan: a fraude (Ribeirão Preto, SP: Novo Conceito Editora, 2006, 410 p.). Desafios do Desenvolvimento (ano 3, nº 22, maio de 2006, p. 62; link)

1562. “Caminhos da convergência na globalização”, Brasília, 19 de março de 2006, 8 p. Apresentação ao livro de Leonardo de Almeida Carneiro Enge: A Convergência Macroeconômica Brasil-Argentina: regimes alternativos e fragilidade externa (Brasília: IRBr, 2006; ISBN: 85-7631-048-1). Colocado no blog Book Reviews, post nº 32 (link). Reproduzido no blog Relnet, em 08.01.2007 (link).

1551. “Desconstruindo Estados (ma non troppo...)”, Brasília, 12 fevereiro 2006, 2 p. Resenha de Francis Fukuyama: Construção de Estados: governo e organização no século XXI (Rio de Janeiro: Rocco, 2005, 168 p.). Desafios do Desenvolvimento (??). Blog Book Reviews nº 31 (link).

1539. “A arte da resenha (para uso de aprendizes, neófitos e outros amantes de livros)”, Brasília, 24 janeiro 2006, 5 p. Elementos centrais de uma boa resenha de livros. No Blog Book Reviews (link).

1537. “A educação é cara?; experimente a ignorância...”, Brasília, 22 janeiro 2006, 3 p. Resenha de Gustavo Ioschpe: A ignorância custa um mundo: o valor da educação no desenvolvimento do Brasil (São Paulo: Francis, 2004, 234 p.). Feita versão resumida sob o título “Reforma do ensino no Brasil”. Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 3, nº 20, março de 2006, p. 62). Colocado no blog “Book Reviews”, sob nº 29 (link). Expandido a pedido de Roberto Macedo para a revista de Relações internacionais e Economia (trabalho nº 1601).

1536. “Monopólio do saber?”, Brasília, 18 janeiro 2006, 2 p. Resenha de Fernando Antonio Ferreira de Barros: A tendência concentradora da produção de conhecimento no mundo contemporâneo (Brasília: Paralelo 15 – Abipti, 2005, 307 p.). Desafios do Desenvolvimento (Ano 3, nº 19, fevereiro 2006, p. 79). Colocado no blog “Book Reviews” nº 30 (link). Feita resenha ampliada sob nr. 1687.

1534. “Fábulas fabulosas, a preço de custo...”, Brasília, 16 janeiro 2006, 3 p. Resenha de Eliana Cardoso: Fábulas Econômicas (São Paulo: Financial Times – Prentice Hall, 2006, 306 p.). Feita versão resumida em 2 p. Desafios do Desenvolvimento (Ano 3, nº 19, fevereiro 2006, p. 78; link).

1479. “Conexões entre direito e desenvolvimento”, Brasília, 9 outubro 2005, 2 p. Resenha de Welber Barral (org), Direito e Desenvolvimento: Análise da ordem jurídica brasileira sob a ótica do desenvolvimento (São Paulo: Editora Singular, 2005, p. 360). Publicado em Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 2, nº 16, novembro 2005; p. 61; link).

domingo, março 04, 2007

10) Arquivos históricos sobre o Brasil no exterior

Existem, obviamente, muitos arquivos relevantes para o estudo da história do Brasil no exterior, a começar pelos arquivos portugueses, que compõem a mais ampla coleção de documentos primários da era colonial.
Todos esses arquivos foram devidamente catalogados e encontram-se disponíveis no Brasil, por meio de publicações especializadas feitas no quadro do Projeto Resgate Barão do Rio Branco, sob a direção técnica da arquivista e historiadora Esther Caldas Bertoletti.
Quando eu me encontrava trabalhando na Embaixada do Brasil em Washington tive a preocupação de tentar reproduzir esse esforço para os muitos arquivos existentes nos EUA, a começar pelos National Archives, mas também compilando informações sobre outros arquivos relevantes.
O "Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil" foi compilado em 2003 e encontra-se em fase de publicação impressa. Os interessados podem consultá-lo nesta cópia em pdf:
http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/59GuiaArquivosEUA.pdf

Mais tarde, sob o mesmo modelo, sob iniciativa de meu colega Luis Claudio Villafane Gomes Santos, que havia trabalhado comigo e depois foi removido para Montevidéu, foi composto um volume cobrindo os arquivos uruguaios.
Ele pode ser consultado neste link: http://www.brasmont.org.uy/home/home/index.php?t=noticias&id=65&secc=127

09) Confissoes de um torturador de livros...

Essay
Confessions of a Book Abuser
By BEN SCHOTT
The New York Times Book Reviews, March 4, 2007

I have to admit I was flattered when, returning to my hotel room on the shores of Lake Como, a beautiful Italian chambermaid took my hand. I knew that the hotel was noted for the attentiveness of its staff. Surely, though, such boldness elevated room service to a new level. Escorting me to the edge of the crisply made bed, the chambermaid pointed to a book on my bedside table. “Does this belong to you?” she asked. I looked down to see a dog-eared copy of Evelyn Waugh’s “Vile Bodies” open spread-eagle, its cracked spine facing out. “Yes,” I replied. “Sir, that is no way to treat a book!” she declared, stalking out of the room.

I appreciate the chambermaid’s point of view — and I admire how she expressed it. Yet I profoundly disagree. While the ideas expressed in even the vilest of books are worthy of protection, I find it difficult to respect books as objects, and see no harm whatsoever in abusing them.

There are, of course, some important exceptions: rare books or those of historical interest, books with fine binding or elegant illustrations, unpurchased books in bookshops, and books belonging to other people or to libraries. All of these I treat with a care and consideration that I would not dream of bestowing on the average mass-produced paperback. Once a book is mine, I see no reason to read it with kid gloves. And if you have ever seen a printing press disgorge best sellers at 20,000 copies an hour, you might be tempted to agree. It is the content of books that counts, not the books themselves — no matter how well they furnish a room.

Indeed, the ability of books to survive abuse is one of the reasons they are such remarkable objects, elevated far beyond, say, Web sites. One cannot borrow a Web site from a friend and not return it for years. One cannot, yet, fold a Web site into one’s back pocket, nor drop a Web site into the bath. One cannot write comments, corrections or shopping lists on Web sites only to rediscover them (indecipherable) years later. One cannot besmear a Web site with suntan-lotioned fingers, nor lodge sand between its pages. One cannot secure a wobbly table with a slim Web site, nor use one to crush an unsuspecting mosquito. And, one cannot hurl a Web site against a wall in outrage, horror or ennui. Many chefs I know could relive their culinary triumphs by licking the food-splattered pages of their favorite cookbooks. Try doing that with a flat-screen monitor.

All of these strike me as utterly reasonable fates for a book, even though (and perhaps because) they would horrify a biblioprude and befuddle a Web monkey.

The most rococo act of book abuse is something I have performed only once — and it is a great deal more difficult than countless movies would have one believe. To excavate a hiding place for valuables within the pages of a thick book takes a sharp scalpel, a strong arm and a surprising amount of patience. I had hoped to cut a hole with the exact outline of the object to be hidden — not, sadly, a revolver, but something equally asymmetrical. However, slicing page after page with uniform precision proved beyond me, and all I could manage to gouge was a rather forlorn rectangle. (There are some who would tempt fate by stashing their baubles within “Great Expectations” or “Treasure Island.” I played safe with “Pride and Prejudice,” since I had never gotten much further than its eminently quotable first line.)

I also enthusiastically turn down the pages of books as I read them — so much so that I have developed a personal dog-earing code: folding a top corner marks a temporary page position, while folding a bottom corner marks a page that might be worth revisiting. In both cases, the tip of the fold points toward the relevant passage. Of course, this could be achieved with a ribbon or a bookmark; but so many books are bereft of ribbons, and I have always thought there is something ever so slightly shifty about those who always have a bookmark on hand.

My favorite act of abuse is writing in books — and, in this at least, I follow in illustrious footsteps. Mathematics would be considerably poorer were it not for the marginalia of Pierre de Fermat, who in 1637 jotted in his copy of the “Arithmetica” of Diophantus, “I have a truly marvelous proof of this proposition that this margin is too narrow to contain.” This casual act of vandalism kept mathematicians out of trouble for 358 years. (Andrew Wiles finally proved Fermat’s Last Theorem in 1995.)

Libraries have an ambivalent attitude to marginalia. On the one hand, they quite properly object to people defacing their property. Cambridge University Library has a chamber of horrors displaying “marginalia and other crimes,” including damage done by “animals, small children and birds,” not to mention the far from innocuous Post-it note. On the other hand, libraries cannot suppress a flush of pride on acquiring an ancient text “annotated” by someone famous. Like graffiti, marginalia acquire respectability through age (and, sometimes, wit).

While I take great delight in marking significant passages, jotting down notes and even doodling in my books, I do draw the line at highlighter pens. One of my schoolmates used to insist on marking the passages he needed to review with a fluorescent pink highlighter. It was gently suggested that, since swaths of his textbooks were smothered in pink, it might be easier to highlight the areas he didn’t need to remember. He should have taken this advice, since the pink glop reacted badly with one particularly porous textbook, dissolving all of the type it touched and leaving legible only the irrelevant passages.

I am not unaware that the abuse of books has a dark and dishonorable past. Books have been banned and burned and writers tortured and imprisoned since the earliest days of publishing. While one thinks of such historical nadirs as Savonarola’s “bonfire of the vanities” and the Nazi pyres of “un-German” and “degenerate” books, the American Library Association warns that we still live in an era of book burning. Perhaps inevitably, J. K. Rowling’s boy wizard is the target of much modern immolation. One group in Lewiston, Me., when denied permission for a pyre by the local fire department, held a “book cutting” of “Harry Potter and the Sorcerer’s Stone” instead.

To destroy a book because of its content or the identity of its author is a despicable strangulation of thought. But such acts are utterly distinct from the personal abuse of a book — and there is no “slippery slope” between the two. The businessman who tears off and discards the chunk of John Grisham he has already read before boarding a plane may lack finesse, but he is not a Nazi. Indeed, the publishing industry thinks nothing of pulping millions of unsold (or libelous) books each year. And there was no outcry in 2003 when 2.5 million romance novels from the publisher Mills & Boon were buried to form the noise-reducing foundation of a motorway extension in Manchester, England.

It is notable that those who abuse their own books through manhandling or marginalia are often those who love books best. And surely the dystopia of “Fahrenheit 451” is more likely avoided through the loving abuse of books than through their sterile reverence. Not that I expect the chambermaid to agree

Ben Schott is the author, most recently, of “Schott’s Almanac.”

quinta-feira, março 01, 2007

08) O Itamaraty nos livros de historia...

Dos arquivos da história: o Itamaraty nas fontes primárias

Paulo Roberto de Almeida
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)

Alvaro da Costa Franco (org.):
Com a palavra, o Visconde do Rio Branco: A política exterior no Parlamento imperial [1855-1875] (Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática; Brasília: Funag, 2005, 574 p.)

Brasil. Secretaria de Estado dos Negócios do Império e Estrangeiros:
O Conselho de Estado e a política externa do Império: Consultas da Seção dos Negócios Estrangeiros, 1858-1862 (Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática; Brasília: Funag, 2005, xv + 450 p.)

José Antonio Pimenta Bueno; José Maria da Silva Paranhos; Sérgio Teixeira de Macedo:
Pareceres dos Consultores do Ministério dos Negócios Estrangeiros: 1859-1864 (Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática; Brasília: Funag, 2006, 244 p.)

Marcelo Raffaelli:
A Monarquia e a República: Aspectos das relações entre Brasil e Estados Unidos durante o Império (Rio de Janeiro: Centro de História e Documentação Diplomática; Brasília: Funag, 2006, 290 p.)


Estes quatro volumes constituem novas e valiosas contribuições aos “garimpeiros” da história diplomática do Brasil, ao disponibilizarem documentos originais e guias documentais sobre fontes que esclarecem alguns elementos históricos negligenciados ou desconhecidos dos pesquisadores contemporâneos. Três deles trazem os carimbos dos arquivos do Itamaraty, na verdade papéis de uma outra época, quando o velho ministério dos Negócios Estrangeiros ainda não levava o nome pelo qual é hoje conhecido e sequer existia no palácio do Rio de Janeiro. O primeiro e o último dos volumes foram também garimpados em outras fontes, respectivamente os anais da Assembléia Geral e do Senado, em determinados períodos do Império, para o volume relativo ao Visconde do Rio Branco, e os arquivos diplomáticos dos Estados Unidos, tal como disponíveis em formato de microfilmes pelos National Archives.
O Embaixador Alvaro da Costa Franco, diretor do Centro de História e Documentação Diplomática do Ministério das Relações Exteriores no Rio de Janeiro, vem, ao longo dos anos, coligindo, organizando e publicando os mais diversos materiais históricos relevantes para o estudo da nossa diplomacia, grande parte nos Cadernos do CHDD, com a colaboração de sua editora executiva, Maria do Carmo Strozzi Coutinho. Ambos, com a ajuda ocasional de pesquisadores acadêmicos, têm sido incansáveis na recuperação e divulgação de velhos papéis quase esquecidos na poeira dos arquivos diplomáticos brasileiros, reconhecidamente os mais completos do mundo latino-americano (pois que recuperando muito do que tinha sido produzido pela secular diplomacia portuguesa e que aqui aportou, nas bagagens da família real, em 1808). Este trabalho de garimpo e lapidação deve ser ressaltado, pois é dele que resultarão, nos anos à frente, novas interpretações do processo diplomático brasileiro durante o Império e ao início da República, pois que ele fornece a documentação de base indispensável à revisão fundamentada de análises já clássicas sobre esses períodos, assim como para corrigir visões acadêmicas por vezes simplistas ou até enviesadas das realidades da nossa diplomacia d’antanho.
A coleção dos discursos do Visconde do Rio Branco nas duas casas do Parlamento, num longo espaço de vinte anos, entre 1855 e 1875, é precedida de uma brilhante, embora curta, introdução do diplomata e mestre em história Fernando Figueira de Mello, que contextualiza sua vida e seu papel nas relações exteriores do Brasil: cinco vezes ministro dos negócios estrangeiros, antes jornalista voltado para os temas internacionais, em especial os do Prata, e consultor do MNE, mesmo não tendo formação em direito (ele vinha de escolas militares e era matemático de primeira linha). O interessante a destacar, nessa introdução é a observação de que conceitos como “interesses vitais” do Brasil, “interesses essenciais” ou “concretos” são constantes nos discursos do Visconde no Parlamento, “preocupação, aliás, presente desde as Cartas ao Amigo Ausente, em que o jovem Paranhos, em diferentes ocasiões, defendera uma política externa isenta de discussões partidárias” (p. 16). Figura neste volume, entre as páginas 299 e 405, o célebre discurso sobre os eventos platinos que conduziram à celebração do tratado de Tríplice Aliança, em 1865, enaltecido em crônica de Machado de Assis sobre “O velho Senado”, no qual Paranhos defendeu durante sete horas seguidas as motivações da política imperial para a região.
O segundo volume, relativo às consultas da seção dos Negócios Estrangeiros do Conselho de Estado, entre 1858 e 1862, recolhe algumas peças importantes para o estudo de questões da nossa diplomacia imperial, geralmente no que toca aos tratados de limites, às relações consulares e contenciosos bilaterais sobre pedidos de indenizações de particulares. Dois documentos tratam da organização do próprio MNE, numa época em que ele não chegava a ter mais de duas dúzias de funcionários permanentes (incluindo alguns correios a cavalo) e quando o Secretário Geral – figura importante em gabinetes que se sucediam em notável rotatividade – era chamado de Oficial Maior. As maiores pendências com os vizinhos eram relativas aos direitos de navegação, terreno no qual a diplomacia imperial mantinha, como se sabe, posturas diversas no Prata e no Amazonas, em virtude da situação completamente oposta do acesso por essas vias fluviais de importância internacional. Curioso ler, por exemplo, numa consulta relativa aos tratados de comércio, navegação e limites com a Venezuela, de 1852, que o país andino queria rever, este parecer do relator, visconde do Uruguai, com ensinamentos talvez válidos para tempos ulteriores: “Nos governos semelhantes ao de Venezuela, o governo não é, de fato, um ente moral, que se perpetua sem atenção às pessoas. As pessoas são tudo. A administração seguinte rejeita o que fez a anterior, sua antagonista, pela razão de que foi esta que o fez. Não é, por certo, justificável semelhante razão, mas é por ela que se se faz obra e, se é por ela que se faz obra e a não podemos aniilar, cumpre ou ir com ela, ou não negociar um revés” (p. 16). Ou ainda: “Um governo dificilmente concede hoje o que negou ontem” (p. 17). Lições para os dias de hoje?
A compilação de pareceres dos Consultores do MNE, de 1859 a 1864, onde ainda aparece Paranhos, detentor, entre 1861 e 1865, do cargo por ele mesmo criado em 1859, aprofunda o conhecimento disponível sobre a construção jurídica da nossa diplomacia imperial, legatária de uma tradição de respeito ao direito internacional que foi seguida até hoje na política externa brasileira. Abundam as reclamações e pendências de súditos e sobre espólios particulares, hoje de importância menor no trabalho diplomático e consular , mas são bem mais interessantes os textos relativos a tratados de limites, nos quais estão expostas posições da diplomacia imperial – a do uti possidetis, por exemplo – que serão mantidas durante longos anos, até a sua completa resolução, já na República. O primeiro parecer, da lavra de Pimenta Bueno, depois marquês de São Vicente, toca no que se chamaria hoje, em linguagem gattiana, de “tratamento nacional”, bem como na questão sempre difícil do monopólio nacional em matéria de relações internacionais, contra a tendência sempre presente de poderes subnacionais legislarem sobre o assunto: ele condena a legalidade dos impostos sobre estrangeiros previstos em lei provincial da Bahia, de 1858, pedindo que as medidas sejam revogadas, por “impolíticas e anti-econômicas” (p. 22).
O quarto volume, finalmente, constitui um exemplo de síntese histórica, em sua objetividade e concisão. A compilação feita dos despachos e ofícios trocados pelos diplomatas dos dois países com suas respectivas secretarias de Estado compõe um relato saboroso das relações bilaterais entre os dois grandes países do hemisfério. Organizado tematicamente, antes que cronologicamente, o livro cobre desde o reconhecimento da independência brasileira até o fim do regime monárquico e a inauguração da República no Brasil. A obra faz a descrição sintética dos chefes de missão e suas respectivas instruções diplomáticas, analisa os problemas do tráfico escravo, da guerra de Secessão e da abertura do rio Amazonas à navegação internacional, bem como as questões políticas e jurídicas do relacionamento bilateral (arbitragens), ademais da própria visão que os enviados mantinham sobre o povo e o país no qual residiam. Excelente resumo das fontes primárias, com intenso apoio nos arquivos oficiais e em bibliografia equilibrada sobre essas relações.
No conjunto, estes quatro volumes compilam importantes documentos e guias de fontes que constituem subsídios primários relevantes ao pesquisador acadêmico ou ao simples curioso de nossa história diplomática. A Fundação Alexandre de Gusmão do Ministério das Relações Exteriores, em especial seu Centro de História e Documentação Diplomática, seus responsáveis e pesquisadores associados merecem encômios pelas iniciativas já tomadas de divulgação desses materiais relevantes, bem como pelas novas publicações que estão certamente em preparação.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21 fevereiro 2007.