Vivendo com Livros

Um blog voltado especificamente para os livros, meus e de outros autores. Nele pretendo colocar materiais relativos a meus livros, resenhas de livros publicados, notas de leitura e informações gerais relativas ao mundo dos livros. Podem também figurar aqui reflexões pessoais sobre esses transparentes objetos de prazer intelectual.

sábado, outubro 14, 2006

05) O segredo dos numeros...

Razão Áurea(tradução de Marco Shinobu Matsumura; Record; 336 páginas; 46,90 reais), do astrofísico israelense (nascido na Romênia) Mario Livio

Veja, edição 1978, 18 de outubro de 2006

Leia trecho do livro Razão Áurea, de Mario Livio

PRELÚDIO PARA UM NÚMERO
Inumeráveis são as maravilhas do mundo.
Sófocles (495-405 a.C.)

O famoso físico britânico lorde Kelvin (William Thomson; 1824-1907), em cuja homenagem foram batizados os graus da escala de temperatura absoluta, disse certa vez em uma conferência: "Quando não podemos expressar algo em números, nosso conhecimento é de um tipo escasso e insatisfatório." Kelvin estava, obviamente, se referindo ao conhecimento exigido para o avanço da ciência. Mas números e matemática têm a curiosa propensão a contribuir até para o entendimento de coisas que são, ou pelo menos parecem ser, extremamente distantes da ciência. Em O mistério de Marie Rogêt, de Edgar Allan Poe, o famoso detetive Auguste Dupin diz: "Nós fazemos da sorte uma questão de cálculo absoluto. Submetemos o não-procurado e o não-imaginado às fórmulas matemáticas das escolas." Num nível ainda mais simples, considere o seguinte problema que o leitor pode ter encontrado ao se preparar para uma festa: há uma barra de chocolate composta de doze pedaços; quantas quebras são necessárias para separar todos os pedaços? A resposta é, na verdade, mais simples do que você pode ter pensado e não envolve quase nenhum cálculo. Toda vez que se faz uma quebra, tem-se um pedaço a mais do que antes. Portanto, se você precisa terminar com doze pedaços, terá que quebrar onze vezes. (Verifique isso por si mesmo.) De modo mais geral, qualquer que seja o número de pedaços que formam a barra de chocolate, o número de quebras é sempre um a menos que o número de pedaços.

Mesmo que você não seja um apreciador de chocolate, perceberá que esse exemplo demonstra uma regra matemática simples que pode ser aplicada em muitas outras circunstâncias. Mas, além das propriedades, fórmulas e regras matemáticas (muitas das quais sempre acabamos esquecendo), existem alguns números especiais que são tão onipresentes que nunca deixam de nos surpreender. O mais famoso deles é o número Pi (π), que é a razão entre a circunferência de qualquer círculo e seu diâmetro. O valor de Pi, 3,14159..., tem fascinado muitas gerações de matemáticos. Embora tenha sido originalmente definido na geometria, o Pi aparece muito freqüente e inesperadamente no cálculo de probabilidades. Um exemplo famoso é conhecido como a Agulha de Buffon, em homenagem ao matemático francês George-Louis Leclerc, conde de Buffon (1707-1788), que, em 1777, propôs e resolveu o seguinte problema matemático. Leclerc perguntou: suponha que você tenha uma grande folha de papel no chão, pautada com linhas retas paralelas separadas por uma distância fixa. Uma agulha de comprimento exatamente igual ao espaçamento entre as linhas é jogada ao acaso sobre o papel. Qual é a probabilidade de que a agulha caia de tal maneira que cruze uma das linhas (por exemplo, como na Figura 1)? Surpreendentemente, a resposta é o número 2/π. Portanto, em princípio, você pode avaliar π repetindo esta experiência muitas vezes e observando em que fração do total de jogadas você obtém uma interseção. (Mas existem maneiras menos tediosas de encontrar o valor de Pi.) Hoje em dia, Pi se tornou uma palavra tão familiar que até inspirou o cineasta Darren Aronofsky a fazer, em 1998, um thriller intelectual com esse título.

Menos conhecido que o Pi é um outro número, o Fi (Φ), que, em muitos aspectos, é ainda mais fascinante. Suponha que eu lhe pergunte: o que o encantador arranjo de pétalas numa rosa vermelha, o famoso quadro "O Sacramento da Última Ceia", de Salvador Dalí, as magníficas conchas espirais de moluscos e a procriação de coelhos têm em comum? É difícil de acreditar, mas esses exemplos bem díspares têm em comum um certo número, ou proporção geométrica, conhecido desde a Antiguidade, um número que no século XIX recebeu o título honorífico de "Número Áureo", "Razão Áurea" e "Seção Áurea". Um livro publicado na Itália no começo do século XVI chegou a chamar essa razão de "Proporção Divina".

No dia-a-dia, usamos a palavra "proporção" ou para a relação comparativa entre partes de coisas com respeito a tamanho ou quantidade, ou quando queremos descrever uma relação harmoniosa entre diferentes partes. Na matemática, o termo "proporção" é usado para descrever uma igualdade do tipo: nove está para três assim como seis está para dois. Como veremos, a Razão Áurea nos fornece uma intrigante mistura das duas acepções, já que, embora seja matematicamente definida, considera-se que revela qualidades agradavelmente harmoniosas.

A primeira definição clara do que mais tarde se tornou conhecido como a Razão Áurea foi dada por volta de 300 a.C. pelo fundador da geometria como sistema dedutivo formalizado, Euclides de Alexandria. Retornaremos a Euclides e suas fantásticas realizações no Capítulo 4, mas agora quero observar apenas que é tão grande a admiração inspirada por Euclides que, em 1923, a poetisa Edna St. Vincent Millay escreveu um poema intitulado "Somente Euclides viu a Beleza Nua". Na verdade, até as notas de aula de Millay do seu curso de geometria euclidiana foram preservadas. Euclides definiu uma proporção derivada da simples divisão de uma linha no que ele chamou de sua "razão extrema e média". Nas palavras de Euclides:

Diz-se que uma linha reta é cortada na razão extrema e média quando, assim como a linha toda está para o maior segmento, o maior segmento está para o menor.

A C B

Figura 2

Em outras palavras, se observarmos a Figura 2, a linha AB certamente é maior que o segmento AC. Ao mesmo tempo, o segmento AC é maior que o CB. Se a razão do comprimento de AC para o comprimento de CB for igual à razão de AB para AC, então a linha foi cortada na razão extrema e média, ou numa Razão Áurea.

Quem poderia imaginar que essa divisão de linha aparentemente tão inocente, que Euclides definiu com objetivos puramente geométricos, poderia ter conseqüências em temas que vão do arranjo de folhas em botânica à estrutura de galáxias que contêm bilhões de estrelas, ou da matemática às artes? A Razão Áurea nos fornece, portanto, um maravilhoso exemplo do sentimento de total espanto que o famoso físico Albert Einstein (1879-1955) valorizava tanto. Nas palavras do próprio Einstein: "A melhor coisa que podemos vivenciar é o mistério. Ele é a emoção fundamental que está no berço da ciência e da arte verdadeiras. Aquele que não o conhece e não mais se maravilha, não sente mais o deslumbramento, vale o mesmo que um morto, que uma vela apagada."

Como veremos calculado neste livro, o valor exato da Razão Áurea (a razão de AC para CB na Figura 2) é o número que nunca termina e nunca se repete 1,6180339887..., e esses números que nunca terminam têm intrigado os homens desde a Antiguidade. Diz uma história que quando o matemático grego Hipasos de Metaponto descobriu, no século V a.C., que a Razão Áurea é um número que não é nem inteiro (como os familiares 1, 2, 3...) nem razão de dois números inteiros (como as frações 1/2, 2/3, 3/4,..., conhecidos coletivamente como números racionais), isso deixou totalmente chocados os outros seguidores do famoso matemático Pitágoras (os pitagóricos). A visão de mundo dos pitagóricos (que descreveremos em detalhe no Capítulo 2) era baseada numa admiração extrema pelos arithmos — as propriedades intrínsecas dos números inteiros ou suas razões — e seu suposto papel no Cosmo. A descoberta de que existiam números como a Razão Áurea que continuam para sempre sem exibir qualquer repetição ou padrão causou uma verdadeira crise filosófica. Reza a lenda que, aturdidos com a estupenda descoberta, os pitagóricos sacrificaram, apavorados, cem bois, embora isso pareça ser bastante improvável, já que os pitagóricos eram estritamente vegetarianos. Devo enfatizar neste ponto que muitas dessas histórias são baseadas em material histórico insuficientemente documentado. A data exata da descoberta de números que não são inteiros nem frações, conhecidos como números irracionais, não é conhecida com grau algum de certeza. Mesmo assim, alguns pesquisadores situam a descoberta no século V a.C., o que é pelo menos coerente com a datação das histórias que acabamos de contar. O que é claro é que os pitagóricos basicamente acreditavam que a existência de tais números era tão horrível que devia (a existência) representar algum tipo de erro cósmico, algo que deveria ser suprimido e guardado em segredo.

O fato de a Razão Áurea não poder ser expressa como uma fração (como um número racional) significa simplesmente que a razão entre os dois comprimentos AC e CB na Figura 2 não pode ser expressa como uma fração. Em outras palavras, por mais que procuremos, jamais encontraremos uma medida cujo valor, multiplicado, digamos, por 31, coincida com a medida de AC, e multiplicado por 19 coincida com a de CB. Dois comprimentos com esta propriedade são chamados de incomensuráveis. A descoberta de que a Razão Áurea é um número irracional, portanto, era, ao mesmo tempo, a descoberta da incomensurabilidade. Em Sobre a vida pitagórica (cerca de 300 d.C.), o filósofo e historiador Iâmblico, um descendente de uma nobre família da Síria, descreve a violenta reação a essa descoberta:

"Eles diziam que o primeiro [humano] a revelar a natureza da comensurabilidade e da incomensurabilidade para aqueles que não eram dignos de compartilhar a teoria era tão odiado que não só foi banido da associação e do modo de vida [pitagórico], como também teve seu túmulo construído, como se o antigo colega tivesse sido apartado da vida entre o gênero humano."

Na literatura matemática profissional, o símbolo habitual para a Razão Áurea é a letra grega tau (t, do grego tomή, to-mž, que significa "o corte" ou "a seção"). Entretanto, no início do século XX, o matemático americano Mark Barr deu à razão o nome de Fi (Φ), a primeira letra grega no nome de Fídias, o grande escultor grego que viveu entre 490 e 430 a.C. As maiores realizações de Fídias foram o "Partenon de Atenas" e o "Zeus" no templo de Olímpia. Tradicionalmente, considera-se também que ele foi o responsável por outras esculturas do Partenon, embora seja bastante provável que muitas delas, na verdade, tenham sido feitas por seus alunos e assistentes. Barr decidiu homenagear o escultor porque alguns historiadores da arte sustentavam que Fídias fazia uso freqüente e meticuloso da Razão Áurea nas suas esculturas. (Examinaremos detalhadamente afirmações semelhantes neste livro.) Usarei os nomes Razão Áurea, Seção Áurea, Número Áureo, Fi e o símbolo Φ livremente ao longo do livro, pois esses são os nomes mais freqüentemente encontrados na literatura matemática recreativa.

Algumas das maiores mentes matemáticas de todos os tempos, de Pitágoras e Euclides na Grécia antiga, passando pelo matemático italiano da Idade Média Leonardo de Pisa e o astrônomo renascentista Johannes Kepler, até figuras científicas do presente, como o físico de Oxford Roger Penrose, passaram horas sem fim trabalhando com esta simples razão e suas propriedades. Mas a fascinação pela Razão Áurea não se restringe aos matemáticos. Biólogos, artistas, músicos, historiadores, arquitetos, psicólogos e até místicos têm examinado e debatido as bases de sua ubiqüidade e seu apelo. De fato, provavelmente é correto dizer que a Razão Áurea tem inspirado pensadores de todas as disciplinas mais do que qualquer outro número na história da Matemática.

Uma imensa quantidade de pesquisa, principalmente do matemático canadense Roger Herz-Fischler (descrita no seu excelente livro Uma história matemática do número áureo), tem sido dedicada até à simples questão da origem do nome "Segmento Áureo". Dado o entusiasmo que essa razão tem gerado desde a Antiguidade, poderíamos pensar que o nome também tem origens antigas. De fato, alguns livros competentes de história da matemática, como O nascimento da matemática na era de Platão de François Lasserre, e Uma história da matemática, de Carl B. Boyers, situam a origem desse nome nos séculos XV e XVI, respectivamente. Mas não parece ser esse o caso. Pelo que posso dizer depois de examinar boa parte das tentativas de se achar dados históricos, essa expressão foi usada pela primeira vez pelo matemático alemão Martin Ohm (irmão do famoso físico Georg Simon Ohm, autor da Lei de Ohm no eletromagnetismo) na segunda edição, de 1835, do seu livro Die Reine Elementar-Mathematik (A matemática elementar pura). Ohm escreve em uma nota de rodapé: "Essa divisão de uma linha arbitrária em duas partes também costuma ser chamada de seção áurea." A linguagem de Ohm claramente nos deixa com a impressão de que não foi ele quem inventou a expressão, mas que, em vez disso, usou um nome comumente aceito. Porém, o fato de que ele não a utilizou na primeira edição do livro (publicada em 1826) pelo menos sugere que o nome "Razão Áurea" (ou, em alemão, "Goldene Schnitt") só ganhou popularidade por volta de 1830. A expressão pode ter sido usada oralmente antes disso, talvez em círculos não-matemáticos. Mas não há dúvida de que, após o livro de Ohm, a expressão "Seção Áurea" começou a aparecer freqüente e repetidamente na literatura alemã sobre matemática e história da arte. Ela pode ter feito sua estréia em inglês em um artigo de James Sully sobre estética, publicado na nona edição da Enciclopédia Britânica, em 1875. Sully faz referência à "interessante enquete experimental... instituída por (Gustav Theodor) Fechner — um físico e psicólogo pioneiro alemão do século XIX — sobre a suposta superioridade da ‘seção áurea’ como uma proporção visível". (Discutirei os experimentos de Fechner no Capítulo 7.) O uso mais antigo em inglês em contexto matemático parece ter ocorrido em um artigo intitulado "O Segmento Áureo" (de E. Ackermann), publicado em 1895 no American Mathematical Monthly e, mais ou menos na mesma época, no livro Introdução à álgebra, de 1898, do conhecido professor e escritor G. Chrystal (1851-1911). Apenas como curiosidade, deixe-me observar que a única definição de "Número Áureo" que aparece na edição de 1900 da enciclopédia francesa Nouveau Larousse Illustré é: "Um número usado para indicar cada um dos anos do ciclo lunar." Isto se refere à posição de um calendário anual dentro do ciclo de dezenove anos após o qual as fases da Lua retornam às mesmas datas. Evidentemente, a expressão levou um tempo maior para entrar na nomenclatura matemática francesa.

Mas por que tanto alvoroço em torno disso? O que faz desse número, ou proporção geométrica, algo tão interessante que deva merecer toda essa atenção?

A atratividade do "Número Áureo" origina-se, antes de mais nada, do fato de que ele tem um jeito quase sobrenatural de surgir onde menos se espera.

Pegue, por exemplo, uma maçã qualquer, fruta freqüentemente associada (provavelmente de modo equivocado) com a árvore do conhecimento que aparece de forma tão proeminente na descrição bíblica da queda da humanidade do Paraíso, e corte-a pela sua circunferência. Você irá encontrar as sementes da maçã arrumadas num padrão de estrela de cinco pontas ou pentagrama (Figura 3). Cada um dos cinco triângulos isósceles que formam as pontas do pentagrama tem a propriedade de que a razão entre o comprimento de seu lado mais comprido e do mais curto (a base) é igual à Razão Áurea, 1,618... Mas o leitor pode achar que isso talvez não seja assim tão surpreendente. Afinal, já que a Razão Áurea foi definida como uma proporção geométrica, talvez não devêssemos ficar espantados demais ao descobrir essa proporção em algumas formas geométricas.

Essa, porém, é só a ponta do iceberg. De acordo com a tradição budista, em um dos sermões do Buda ele não emitiu uma única palavra. Ele simplesmente segurava uma flor diante de sua platéia. O que uma flor pode nos ensinar? Uma rosa, por exemplo, quase sempre é considerada um símbolo de simetria, harmonia, amor e fragilidade naturais. Em Religião do homem, o poeta e filósofo indiano Rabindranath Tagore (1861-1941) escreve: "De alguma maneira, sentimos que, por intermédio de uma rosa, a linguagem do amor chega aos nossos corações." Suponha que você queira quantificar a aparência simétrica de uma rosa. Pegue uma rosa e a disseque para ver como suas pétalas se sobrepõem às suas antecessoras. Como descrevo no Capítulo 5, você vai descobrir que as posições das pétalas estão arrumadas de acordo com uma regra matemática que se baseia na Razão Áurea.

Passando agora ao reino animal, todos nós conhecemos a beleza impressionante das estruturas espirais das conchas de muitos moluscos, como o náutilo (Nautilus pompilius; Figura 4). De fato, o Shiva dançante dos mitos hindus segura um desses náutilos em suas mãos, como um símbolo de um dos instrumentos do início da criação. Essas conchas também têm inspirado muitas construções arquitetônicas. O arquiteto americano Frank Lloyd Wright (1869-1959), por exemplo, baseou o desenho do Museu Guggenheim de Nova York na estrutura do náutilo com câmaras. Dentro do museu, os visitantes sobem uma rampa em espiral, seguindo adiante quando suas capacidades imaginativas ficam saturadas pela arte que vêem, tal como o molusco constrói sucessivas câmaras espirais à medida que ocupa totalmente seu espaço físico. Descobriremos no Capítulo 5 que o crescimento das conchas espirais também obedece a um padrão que é orientado pela Razão Áurea.

A essa altura, não precisamos ser místicos de numerologia para começar a sentir um certo assombro por essa propriedade da Razão Áurea de surgir em situações e fenômenos que aparentemente não têm relação entre si. Além disso, como mencionei no começo deste capítulo, a Razão Áurea pode ser encontrada não só em fenômenos naturais mas também em uma variedade de objetos feitos pelo homem e em obras de arte. Por exemplo, na pintura de Salvador Dalí de 1955, "Sacramento da Última Ceia" (na National Gallery, Washington D.C.; Figura 5), as dimensões da pintura (aproximadamente 270 cm × 167 cm) estão numa Razão Áurea entre si. Talvez ainda mais importante, parte de um enorme dodecaedro (um sólido regular de 12 faces no qual cada face é um pentágono) é visto flutuando acima da mesa, engolindo-a. Como veremos no Capítulo 4, sólidos regulares (como o cubo) que podem ser perfeitamente encaixados numa esfera (com todos os seus vértices encostados nela), e o dodecaedro em particular, estão intimamente relacionados com a Razão Áurea. Por que Dalí decidiu exibir a Razão Áurea de maneira tão destacada nessa pintura? Sua observação de que "a Comunhão deve ser simétrica" apenas começa a responder a essa pergunta. Como mostrarei no Capítulo 7, a Razão Áurea figura (ou, pelo menos, afirma-se que ela figura) em obras de muitos outros artistas, arquitetos e desenhistas, e até em famosas composições musicais. Em termos gerais, a Razão Áurea foi usada em algumas dessas obras para que elas obtivessem o que poderíamos chamar de "efetividade visual (ou auditiva)". Uma das propriedades que contribuem para essa efetividade é a proporção — a relação de tamanho das partes entre si e com o todo. A história da arte mostra que, na longa busca pelo elusivo cânone da proporção "perfeita", a que poderia de algum modo conferir automaticamente qualidades estéticas agradáveis a todas as obras artísticas, a Razão Áurea provou ser a mais duradoura. Mas por quê?

domingo, outubro 08, 2006

04) Economic Origins of Dictatorship and Democracy

Subject: Munger on Acemoglu and Robinson, _Economic Origins of Dictatorship and Democracy_
Date: 8 de outubro de 2006 7h16min50s GMT-03:00
From: eh.net-review@eh.net
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------------ EH.NET BOOK REVIEW --------------
Published by EH.NET (October 2006)

Daron Acemoglu and James A. Robinson, _Economic Origins of Dictatorship and Democracy_. New York: Cambridge University Press, 2005. xv + 416 pp. $35 (cloth), ISBN: 0-521-85526-6.

Reviewed for EH.NET by Michael Munger, Department of Political Science, Duke University.

The key questions posed in this book have to do with the origins and stability of institutions. Specifically, why do some nations introduce democratic institutions and others fail to do so? And, among nations that have become democratic at least once in their histories, why is it that some become stable democracies and others revert to authoritarian regimes, and in some cases careen wildly back and forth between regime types?

The book rests on a seeming paradox: politically powerful groups need some device that will allow them credibly to commit to reducing their own power. The threat of mass revolution cannot be forestalled by the promise of side payments, unless the means by which those side payments are decided and awarded is literally within the power of the masses.

The authors (Acemoglu is Kindleberger Professor of Applied Economics at MIT, and Robinson is Professor of Government at Harvard) note that democracies face this problem just as much as autocracies. That is, coups against democracies that impose an oligarchy have much the same logic as coups against oligarchies that seek to impose democracy. In both cases, at least with full information, the current regime will nearly always be better off offering concessions and side payments. But the coup may occur anyway, if the existing regime, regardless of its type, fails to devise a credible means of guaranteeing the compensation once the coup threat dissipates. This is a particular problem when the leaders of a potential coup recognize that their ability to make threats is transitory.

Their methodological approach rests on an extremely innovative suite of formal models. There is more than enough use of historical examples and applications to give flesh to the mathematical skeleton, however, and the book can be profitably read even by those for whom advanced modeling is difficult.

Ultimately, the testable predictions of the models can be summarized, with only minor damage to nuance, fairly briefly. First, democracies have historically been created by elites when the threat of social unrest and violence cannot be defused in any other way. This condition will only be met when the conditions in which citizens live are so bad, but the set of civic connections and infrastructure for overcoming the collective action problems inherent in organizing revolution are so good, that revolution is imminent. Second, democracies will not be an answer to the threat of revolution, even credibly imminent revolution, when inequality is so high, and/or when the assets of elites are easily nationalized or taxed away, or when elites expect to lose control of the ability to write down basic constitutional rules that constrain the scope of democratic government action.

More simply, then, we expect elites to support democratic transitions when the threat of failing to do so is nearly certain revolution, and when the expected political and economic costs of democracy can be kept within certain bounds.

The set-up for the analysis is a very brief, "history seen from a hang-glider," overview of four regime transition histories: England (from oligarchy to stable democracy); Argentina (veering wildly between numerous unstable equilibria); Singapore (from oligarchy to stable oligarchy, but with significant economic growth); and South Africa (from colonial kleptocracy to apartheid to possibly stable democracy).

I expect that the book will be one of the influential pieces of scholarship of the past decade. Its virtue is its flaw: it develops a coherent framework that takes a particular perspective (instantiating the claims of threat and cost outlined above in a model), and derives propositions from those models. Some might interpret coherence as narrowness, even over-simplification, but those of us committed to the enterprise of modeling are persuaded that parsimony is a virtue. The perspective taken here may be wrong, of course. But it is clear just what theoretical assumptions and premises for argument underlie the claims, and it is equally clear how the conclusions are reached. The models, and their implications, are dramatic steps forward, precisely because some of them are likely to be extended or corrected in work that is provoked by Acemoglu and Robinson.

There is one kind of problem the book does not handle very well, and I would like to discuss this briefly. The authors clearly recognize that making promises about a fundamental change in the way that political and economic property rights are defined, and disputes adjudicated, is very difficult, no matter how good one's intentions. The problem is that no one can be sure that the initial assignment will be stable. The problem is more complex than the simple generic instability results, to which the authors here give cursory attention in Chapter 4. Their solution, a variant of the probabilistic voting model, goes some way toward ensuring an outcome, in the sense of the existence of equilibrium.

But not far enough, in my opinion. William Riker's idea of heresthetics is something more than the passive acceptance of the dimensionality of the space of political conflict given by elite consensus. Heresthetics, or the strategic introduction of one or more new issues calculated to split the ruling coalition, either in an oligarchy or a democracy, is a dynamic force that is difficult or impossible to control. Acemoglu and Robinson are entirely too confident of the ability of political institutions to control the specter of political, and ultimately revolutionary, chaos. Their invocation of probabilistic voting, with its implicit convexification of the nonconvexities in aggregate preference orders, is a band-aid that will not hold things together.

That said, I have no alternative solution to offer, and the forecasting of the outcome of chaotic voting trajectories is by definition rather dicey. The threat of the heresthetician is something close to, "Give me what I want, or I'll blow up the building we all live in!" This threat may not be strictly rational, since one is trading away risk and embracing true uncertainty. But it is plausible that some groups excluded from power, in either oligarchic or democratic regimes, might be willing to threaten, and perhaps even to carry out, revolutionary actions that seem suicidal.

My quibble about social choice stability aside, I would recommend this book to anyone with a serious interest in democratic transitions and economic development. Its historical scope, and the power of the models it develops, set a new standard in political economy.

Michael Munger is chair of the Political Science Department at Duke University, and writes on political economy and public choice.

Copyright (c) 2006 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net; Telephone: 513-529-2229). Published by EH.Net (October 2006). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview.

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sábado, outubro 07, 2006

03) Le colonel parle Français...

Recomenda a leitura de um livro de um colega meu, especialista na cultura popular nordestina e no sistema de poder tradicional, o dos coronéis do Nordeste, de um dos quais, aliás, ele é um ilustre (por motivos próprios) descendente:

Littérature et pouvoir: L’image du coronel et de la famille dans la littérature brésilienne
André Heráclio do Rêgo
Collection « Recherches Amériques Latines
Paris: L'Harmattan, 2006, 226 p.

Le coronel et la famille patriarcale sont deux des personnages les plus puissants et les plus intéressants non seulement de l’histoire du Brésil, mais aussi de l’imaginaire de sa société : cela reste bien évident dans deux niveaux de registre culturel, le « populaire », ici réprésenté par la littérature de colportage appelée literatura de cordel, et le « lettré », surtout dans les romans et nouvelles des auteurs brésiliens, de la période romantique jusqu’à nos jours. Cette oeuvre est le travail d’un grand lecteur qui s’établit comme règle d’aller aux textes eux-mêmes : il s’agit d’un véritable ‘parcours de lecture’ pour lire (ou relire) les romans brésiliens et les folhetos de colportage qui brossent un portrait de coronel et de la famille patriarcal, afin d’etablir solidement une typologie qui va bien au-delà des particularismes régionaux habituellement associés à ceux personnages.

Table des matières

Introduction
Chapitre 1 – Le coronel et la famille dans la literatura de cordel
Le coronel comme personnage principal des récits
Les « histoires de lutte »
Les romances do boi.

Chapitre 2 – Le coronel et la famille dans la littérature brésilienne:
à la recherche de l’identité nationale
José de Alencar
Bernardo Guimarães
Inglês de Sousa
Manuel de Oliveira Paiva
Domingos Olímpio
Hugo de Carvalho Ramos
Dr. Antônio
Hilário Tácito
Lima Barreto

Chapitre 3 – La représentation du coronel et de la famille dans le roman de 30
José Américo de Almeida
Graciliano Ramos
Jorge Amado et les coronéis du cacao
José Lins do Rêgo et les deux Nordestes

Chapitre 4 – L’image du coronel et de la famille hors du Nordeste
Érico Veríssimo
Mário Palmério1
José Cândido de Carvalho

Chapitre 5 – La représentation du coronel et de la famille de retour au Nordeste
José Condé
Ariano Suassuna
Rachel de Queiroz

Chapitre 6 – D’un bout à l’autre du Brésil: le coronel et la famille dans l’oeuvre de deux auteurs contemporains
Maximiano Campos
Luís Antônio de Assis Brasil

Chapitre 7 – Une écriture à clefs : un coronel réel personnage de roman
Petite histoire du coronel Francisco Heráclio do Rêgo
Le coronel Francisco Heráclio personnage de roman

Conclusion – La représentation du coronel et de la famille: récapitulation et importance
Glossaire
Bibliographie


André Heráclio do Rêgo est diplomate, docteur en Lettres et Sciences Humaines par l’Université de Paris X – Nanterre, dont il fait partie du Centre de recherches interdisciplinaires sur le monde lusophone (« Pôle Brésil » de Nanterre) et romancier. Ses intérêts se centrent surtout dans l’étude du coronelismo et de la famille élargie au Brésil.