38) Mercado de Armas dos EUA
A indústria de armas jamais perde um tiro
Financial Times, 02/07/2009
Lethal Logic: Exploding the Myths that Paralyze American Gun Policy
Dennis A. Henigan.
Potomac Books, 256 páginas
Não se deixe enganar pelo título. "Lethal Logic" soa como uma polêmica antiarmamentista, o mais novo disparo na batalha sem fim sobre o direito dos americanos de andarem armados. Em parte é, mas o livro oferece muito mais. Analisado sob a perspectiva de negócios, disseca o gênio de marketing de uma indústria que movimenta mercadorias apesar de seu mercado estar saturado e do amplo apoio a restrições mais duras sobre as vendas de seus produtos. Qualquer pessoa interessada em fabricação, vendas a varejo, ou na interação da cultura, psicologia e comércio, pode aprender lições valiosas aqui.
Enquanto a maior parte das empresas luta contra a recessão, fabricantes e comerciantes de armas continuam a acumular bons resultados. "Lethal Logic" explica: a indústria de armas descobriu, há décadas, como capitalizar sobre a adversidade.
Veja as condições atuais. O país elegeu um democrata liberal para a Casa Branca e colocou seu partido no comando do Congresso. O aumento do controle de armas pareceria o resultado provável dessa mudança em relação aos oito anos que os Republicanos passaram no poder. Uma série de incidentes com armas nesta primavera americana - incluindo os assassinatos de um médico que praticava abortos em Wichita e de um guarda do Holocaust Memorial Museum em Washington - vem revigorando o apoio perene e disseminado a restrições às armas de fogo. Em pesquisas, a grande maioria das pessoas consultadas, por exemplo, afirmam ser a favor de maior supervisão das feiras de armas, onde marginais e malucos podem se armar sem passar por uma análise de seus antecedentes criminais.
Mas, em vez de desencorajar o comércio de armas, esse clima desencadeou um frenesi de compras. Fabricantes como Smith & Wesson e Sturm Ruger vêm divulgando crescimento de dois dígitos nas vendas. Os comerciantes afirmam que não conseguem manter as prateleiras cheias. O principal motivo da corrida para o aumento dos arsenais domésticos é que, sempre que o setor percebe uma ameaça de maior regulamentação, convence os clientes de longa data a comprarem mais uma arma - só para se prevenir.
"Acreditamos que o governo Obama tentará tornar as leis sobre armas mais restritivas neste país", disse à Reuters um porta-voz da National Rifle Association (NRA). Em uma reação em cadeia, os comerciantes de armas repetem a mensagem. "Trata-se de medo, ansiedade e 'pegue-os enquanto você pode'", disse ao jornal "The Patriot Ledger" o proprietário da M&M Plimouth Bay Outfitter, uma loja de armas de Plymouth, Massachusetts. Fuzis AR-15 e outros rifles de estilo militar vêm sendo as peças mais vendidas pela M&M.
Conforme observa Dennis Henigan, autor de "Lethal Logic" e defensor de longa data do controle de armas, que faz parte do Brady Center to Prevent Gun Violence, o impacto de Obama é a história se repetindo. Antes de o presidente Bill Clinton sancionar em 1994 a legislação que restringiu a comercialização de rifles como o AR-15, as vendas das "armas de assalto" dispararam. Depois, os fabricantes de armas fazem mudanças cosméticas em seus rifles de assalto e os continuam vendendo.
Henigan explica que uma série de slogans - que ele chama de "lógica do adesivo de para-choque" vêm estimulando as vendas de armas ao longo dos anos. Um simples indício de uma maior regulamentação produz alertas da NRA para "o caminho perigoso em direção a mais restrições draconianas às armas e, em última instância, em direção ao confisco de todas as armas", observa Henigan. Eis como o presidente da NRA, Wayne LaPierre, classifica os períodos de espera antes de os compradores receberem suas armas: "Algumas pessoas chamam de 'o nariz do camelo entrando na tenda'; eu chamo de 'pé na porta', mas independentemente do que você diga, dá na mesma - é o primeiro passo."
Outros clássicos do repertório da indústria das armas: "Uma sociedade armada é uma sociedade educada", "Quando as armas forem consideradas fora-da-lei, apenas os fora-da-lei andarão armados", e a mãe de todos, "As armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas".
Henigan demonstra como o negócio de armas emprega essas mensagens, junto com ativismo, para manter os políticos na linha. Se você subtrai o conteúdo ideológico, essas frases de efeito podem ser vistas como uma inspirada campanha de marketing.
Um dos atributos mais impressionantes da indústria de armas de fogo é que ela sempre pode vender novos produtos. Os americanos já possuem mais de 200 milhões de armas, que durariam gerações se mantidas de maneira correta. Mesmo assim, os donos de armas estão comprando armas substitutas, muito embora o governo Obama até agora tenha desapontado os defensores do controle de armas ao evitar a questão.
Sejam quais forem seus pontos de vista sobre armas, a relação delas com o crime e o significado da Segunda Emenda da Constituição americana, "Lethal Logic" tem algo importante a ensinar: uma mensagem consistente e apaixonada cultiva a lealdade do cliente.
Financial Times, 02/07/2009
Lethal Logic: Exploding the Myths that Paralyze American Gun Policy
Dennis A. Henigan.
Potomac Books, 256 páginas
Não se deixe enganar pelo título. "Lethal Logic" soa como uma polêmica antiarmamentista, o mais novo disparo na batalha sem fim sobre o direito dos americanos de andarem armados. Em parte é, mas o livro oferece muito mais. Analisado sob a perspectiva de negócios, disseca o gênio de marketing de uma indústria que movimenta mercadorias apesar de seu mercado estar saturado e do amplo apoio a restrições mais duras sobre as vendas de seus produtos. Qualquer pessoa interessada em fabricação, vendas a varejo, ou na interação da cultura, psicologia e comércio, pode aprender lições valiosas aqui.
Enquanto a maior parte das empresas luta contra a recessão, fabricantes e comerciantes de armas continuam a acumular bons resultados. "Lethal Logic" explica: a indústria de armas descobriu, há décadas, como capitalizar sobre a adversidade.
Veja as condições atuais. O país elegeu um democrata liberal para a Casa Branca e colocou seu partido no comando do Congresso. O aumento do controle de armas pareceria o resultado provável dessa mudança em relação aos oito anos que os Republicanos passaram no poder. Uma série de incidentes com armas nesta primavera americana - incluindo os assassinatos de um médico que praticava abortos em Wichita e de um guarda do Holocaust Memorial Museum em Washington - vem revigorando o apoio perene e disseminado a restrições às armas de fogo. Em pesquisas, a grande maioria das pessoas consultadas, por exemplo, afirmam ser a favor de maior supervisão das feiras de armas, onde marginais e malucos podem se armar sem passar por uma análise de seus antecedentes criminais.
Mas, em vez de desencorajar o comércio de armas, esse clima desencadeou um frenesi de compras. Fabricantes como Smith & Wesson e Sturm Ruger vêm divulgando crescimento de dois dígitos nas vendas. Os comerciantes afirmam que não conseguem manter as prateleiras cheias. O principal motivo da corrida para o aumento dos arsenais domésticos é que, sempre que o setor percebe uma ameaça de maior regulamentação, convence os clientes de longa data a comprarem mais uma arma - só para se prevenir.
"Acreditamos que o governo Obama tentará tornar as leis sobre armas mais restritivas neste país", disse à Reuters um porta-voz da National Rifle Association (NRA). Em uma reação em cadeia, os comerciantes de armas repetem a mensagem. "Trata-se de medo, ansiedade e 'pegue-os enquanto você pode'", disse ao jornal "The Patriot Ledger" o proprietário da M&M Plimouth Bay Outfitter, uma loja de armas de Plymouth, Massachusetts. Fuzis AR-15 e outros rifles de estilo militar vêm sendo as peças mais vendidas pela M&M.
Conforme observa Dennis Henigan, autor de "Lethal Logic" e defensor de longa data do controle de armas, que faz parte do Brady Center to Prevent Gun Violence, o impacto de Obama é a história se repetindo. Antes de o presidente Bill Clinton sancionar em 1994 a legislação que restringiu a comercialização de rifles como o AR-15, as vendas das "armas de assalto" dispararam. Depois, os fabricantes de armas fazem mudanças cosméticas em seus rifles de assalto e os continuam vendendo.
Henigan explica que uma série de slogans - que ele chama de "lógica do adesivo de para-choque" vêm estimulando as vendas de armas ao longo dos anos. Um simples indício de uma maior regulamentação produz alertas da NRA para "o caminho perigoso em direção a mais restrições draconianas às armas e, em última instância, em direção ao confisco de todas as armas", observa Henigan. Eis como o presidente da NRA, Wayne LaPierre, classifica os períodos de espera antes de os compradores receberem suas armas: "Algumas pessoas chamam de 'o nariz do camelo entrando na tenda'; eu chamo de 'pé na porta', mas independentemente do que você diga, dá na mesma - é o primeiro passo."
Outros clássicos do repertório da indústria das armas: "Uma sociedade armada é uma sociedade educada", "Quando as armas forem consideradas fora-da-lei, apenas os fora-da-lei andarão armados", e a mãe de todos, "As armas não matam pessoas; pessoas matam pessoas".
Henigan demonstra como o negócio de armas emprega essas mensagens, junto com ativismo, para manter os políticos na linha. Se você subtrai o conteúdo ideológico, essas frases de efeito podem ser vistas como uma inspirada campanha de marketing.
Um dos atributos mais impressionantes da indústria de armas de fogo é que ela sempre pode vender novos produtos. Os americanos já possuem mais de 200 milhões de armas, que durariam gerações se mantidas de maneira correta. Mesmo assim, os donos de armas estão comprando armas substitutas, muito embora o governo Obama até agora tenha desapontado os defensores do controle de armas ao evitar a questão.
Sejam quais forem seus pontos de vista sobre armas, a relação delas com o crime e o significado da Segunda Emenda da Constituição americana, "Lethal Logic" tem algo importante a ensinar: uma mensagem consistente e apaixonada cultiva a lealdade do cliente.
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